Pesquisa sobre escorpião com intestino preso dá prêmio a cientistas da USP
No mês passado, dois pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) receberam o Ig Nobel 2022, um prêmio mundial promovido pela revista de humor científico Anais da Pesquisa Improvável. Contemplados na categoria de Biologia, os representantes brasileiros – Solimary Garcia-Hernandez e Glauco Machado – dissertaram sobre a forma como os escorpiões lidam com a perda de sua “cauda”.
Quando fazia o seu mestrado sobre aracnídeos, a pesquisadora colombiana Solimary – principal autora do estudo premiado – descobriu perto de sua casa uma “comunidade” de escorpiões Ananteris, que perdiam sua cauda para escapar de um predador. Por não ser ainda identificada pela ciência, a espécie foi batizada de Ananteris solimary.
Ao retornar ao Brasil, a pesquisadora percebeu que outras espécies do mesmo gênero também perdiam o rabo para sobreviver. Como ao perder essa parte do corpo, eles perdem também seu ferrão e o intestino, que não são regenerados, a questão de pesquisa foi: como esses animais automutilados passam os restos de suas vidas sem defecar?
Prisão de ventre ou morte?
A tese de doutorado estuda como os escorpiões lidam com a perda permanente de sua “cauda”. Chamada de autotomia, essa perda é voluntária e fruto de uma escolha difícil, mas óbvia: quando perde sua extremidade corporal, aí incluídos ferrão, intestino e ânus, o indivíduo sobrevive a uma tentativa de predação e ganha uma sobrevida.
No entanto, o mecanismo defensivo impõe custos aos escorpiões. No que se refere à perda do ânus, os animais nessa condição param de fazer cocô, acumulando suas fezes na cavidade abdominal pelo resto de suas vidas.
O que Solimarys descobriu, com a orientação de Glauco, foi que, mesmo autotomizados, machos e fêmeas de Ananteris continuam capturando suas presas (principalmente as menores), fazendo sexo e se reproduzindo, embora tenham uma perda em termos de locomoção e forrageamento.
Sobre o Prêmio Ig Nobel
Criado em 1991 pelo matemático Marc Abrahams, o Prêmio Ig Nobel tem como objetivo estimular o interesse do público em geral por ciência e tecnologia, ou seja, faz as pessoas rirem, mas levanta questões relevantes. Falando ao Jornal da USP, Solimarys lembra que os cientistas “também dão risadas e fazem piadas”.
A própria premiação Ig Nobel, apesar de revestida de um tom humorístico, só contempla pesquisas que façam pensar. Na edição deste ano, a 32ª da série, os representantes do Brasil receberam um troféu e uma cédula de 10 trilhões de dólares do Zimbábue, uma moeda que atualmente só tem valor para colecionadores.
ARTIGO – Biblioteca Digital USP