Perícia avalia em R$ 2 milhões joias apreendidas no apartamento de Cabral
[Via G1]
Peritos da Polícia Federal avaliaram em pouco mais de R$ 2 milhões as 40 joias apreendidas, no último dia 17 de novembro, no apartamento do ex-governador Sérgio Cabral. Todos os brincos, colares e relógios foram adquiridos em dinheiro e sem nota fiscal, de acordo com os investigadores. A avaliação consta do laudo anexado ao inquérito da Operação Calicute que foi entregue ao Ministério Público Federal.
As investigações resultaram em 16 pessoas indiciadas por crimes que vão de corrupção passiva e ativa, organização criminosa a lavagem de dinheiro. Agora, a Polícia Federal tenta descobrir se há joias escondidas ou se as notas fiscais são verdadeiras.
De acordo com os investigadores, os peritos fizeram o cruzamento entre as joias apreendidas no apartamento do ex-governador e as notas fiscais apresentadas pelas joalherias H.Stern e Antonio Bernardo para saber de onde são as peças. As duas joalherias apresentaram R$ 7,1 milhões em notas fiscais de compras realizadas pelo casal Cabral a partir de 2007, ano em que Sérgio Cabral assumiu o governo do RJ. Ou seja, valor bem acima das joias apreendidas. Agora, os investigadores querem investigar se o ex-governador, ou sua mulher, mantém outras peças preciosas escondidas.
Em depoimento, a diretora comercial da H.Stern, Maria Luiza Trotta disse que “chegou a vender joias no valor de até R$ 100 mil a Sérgio Cabral, tais como anéis de brilhante ou outros tipos de pedras preciosas, sendo o pagamento ainda que em tais quantias realizado em dinheiro”. Nas notas fiscais, entregue pela joalheria à PF, um dia após a operação Calicute, mostra que o valor das joias está acima do declarado pela diretora.
Na lista entregue pela H.Stern, há informações de que o ex-governador adquiriu um anel de ouro branco de 18 quilates, com esmeralda, avaliado em R$ 342 mil; além de um colar denominado Blue Paradise, no valor de R$ 229 mil. Em seu depoimento, Sérgio Cabral disse “não se recordar desta compra”.
Já na Joalheria Antônio Bernardo, a PF obteve notas fiscais que mostram a compra de mais R$ 5,1 milhões em joias.
Indiciados
A Polícia Federal informou nesta sexta-feira (3) que concluiu na última quarta o inquérito policial relativo à 1º fase da Operação Calicute. Segundo a corporação, as investigações resultaram em 16 pessoas indiciadas pelos delegados federais que conduziram o procedimento por crimes que vão de corrupção passiva e ativa, organização criminosa a lavagem de dinheiro. Serão instaurados ainda outros inquéritos policiais para aprofundamento de novas vertentes da investigação. Entre os indiciados pela PF estão o ex-governador Sérgio Cabral Filho e a mulher dele, Adriana Ancelmo.
Confira a seguir a lista dos outros indiciados:
– Wilson Carlos Cordeiro da Silva de Carvalho (ex-secretário de Governo do RJ)
– Carlos Emanuel de Carvalho Miranda (apontado como operador financeiro da quadrilha)
- Luiz Carlos Bezerra (ex-assessor de orçamento da Assembleia Legislativa do Rio)
- Hudson Braga (ex-secretário de Obras do Estado do RJ)
- Wagner Jordão Garcia (ex-assessor de Sérgio Cabral)
- José Orlando Rabello (ex-chefe de gabinete de Hudson Braga)
- Carlos Jardim Borges (Empresário, teria realizado pagamentos suspeitos para empresa de Carlos Miranda).
- Pedro Ramos de Miranda (Bombeiro. Foi motorista do ex-governador).
- Luiz Alexandre Igayara (Empresário, teria realizado pagamentos por serviços inexistentes em benefício do esquema investigado).
- Paulo Fernando Magalhães Pinto (administrador de empresas)
- Luiz Paulo dos Reis (administrador e empresário. Ligado à Hudson Braga).
- Alex Sardinha da Veiga (é tido pelos investigadores como um dos participantes de acordos "criminosos" entre a Secretaria de Obras e a Construtora Oriente, empresa que ele diz representar, segundo o MPF).
- Rosângela Machado de Carvalho Braga ( parente de Hudson Braga, é apontada como possível "laranja" no esquema).
- Jéssica Machado Braga (parente de Hudson Braga, é apontada como possível "laranja" no esquema).
O ex-governador Sérgio Cabral responde a dois inquéritos: um, no Rio e outro em Curitiba (PR). O primeiro, concluído pela equipe da PF, cuida da apuração de propinas pagas ao ex-governador nas obras referentes ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Favelas, Arco Metropolitano e Maracanã. Um relatório foi encaminhado pela PF aos procuradores da República, no Rio.
Já a investigação da equipe da PF em Curitiba cuida de irregularidades praticadas pelo ex-governador na construção do Complexo Petroquímico do Rio (Comperj). Na quinta, o juiz Sérgio Moro decidiu prorrogar por 15 dias o prazo para que as investigações fossem encerradas. Inicialmente, o prazo para o término da investigação venceria na quinta-feira, mas com a decisão de Moro, os agentes tinham até o próximo dia 16 para concluir o trabalho.
A Calicute foi deflagrada no dia 17 de novembro, por um núcleo da Operação Lava-Jato no Rio, e teve como principal alvo o ex-governador do Rio de Janeiro Ségio Cabral Filho, suspeito de receber propina de contratos firmados entre empreiteiras e o poder público.
A operação teve como base as delações premiadas do ex-dono da Delta Engenharia Fernando Cavendish, da empreiteira Andrade Gutierrez e da Carioca Engenharia, que revelaram ter pagado propinas por obras como a do Marcanã, do PAC das Favelas e do Arco Metropolitano.
No início deste ano, dois ex-executivos da construtora Andrade Gutierrez afirmaram, em delação premiada a procuradores da Lava-Jato, que Sérgio Cabral cobrou propina da empreiteira Andrade Gutierrez em obras do Maracanã para a Copa do Mundo.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Cabral cobrava propina das empreiteiras para que estas fechassem contratos com o governo do estado. As construtoras, por sua vez, se consorciavam para fraudar as licitações e sabiam previamente quem iria ganhar as concorrências.
Os investigadores dizem que 5% do valor de cada contrato ia para Cabral e 1% para a Secretaria Estadual de Obras - percentual conhecido como "taxa de oxigênio". Cabral recebia das empreiteiras "mesadas" entre R$ 200 mil e R$ 500 mil. De acordo com as investigações, o ex-governador chefiava uma organização criminosa e tinha como principais operadores os ex-secretários estaduais de Obras, Hudson Braga, e de Governo, Wilson Carlos Carvalho, também presos.
Wilson Carlos é apontado como "operador administrativo" das propinas recebidas, enquanto Braga teria utilizado empresas para lavar dinheiro desviado e atuado ativamente no esquema. Abaixo de Wilson e Braga na organização aparecem os "operadores financeiros" José Orlando Rabelo, Wagner Jordão Garcia, Carlos Miranda e Carlos Bezerra. Eles teriam como principal função receber os pagamentos, distribuir o dinheiro arrecadado e usar empresas para ocultar e lavar as propinas.
O esquema criminoso teria desviado R$ 220 milhões, segundo estimativa dos investigadores. Eles acreditam que mais empresas possam estar envolvidas no esquema. O dinheiro das propinas teria sido lavado em contratos falsos de consultorias e na compra de bens de luxo, como joias, vestidos de festa, obras de arte, um helicóptero e uma lancha avaliada em R$ 5 milhões.
A mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, é suspeita de lavagem de dinheiro e de ser beneficiária do esquema criminoso. Ela foi alvo de mandado de condução coercitiva no mesmo dia em que o marido foi preso e chegou a ter a prisão temporária pedida pelo MPF, mas o pedido foi negado pelo juiz da 7ª Vara Federal do Rio, Marcelo Bretas, para quem que a eventual participação dela no esquema não justificaria a medida.