Movimento antivacina impede avanço na imunização de crianças
Apenas 65.348 crianças de 5 a 11 anos receberam a primeira dose pediátrica contra o coronavírus em Mato Grosso do Sul, por volta de 21,71% do público-alvo
À medida que a pandemia de Covid-19 avança, o movimento antivacina ganha cada vez mais força nos grupos que insistem no negacionismo científico.
Especialistas apontam que esta é a principal razão para a lenta vacinação das crianças de 5 a 11 anos em Mato Grosso do Sul.
Dentro do público-alvo, estimado em 301 mil crianças, apenas 65.348 receberam a primeira dose contra o coronavírus no Estado, por volta de 21,71% do total preconizado.
Para a infectologista e pediatra Ana Lúcia Lyrio, o contexto político e o medo dos efeitos colaterais são fatores favoráveis para o crescimento do movimento contrário à imunização no País.
“A vacinação está lenta em razão do movimento antivacina preconizado pelo governo federal. Desta forma, os pais se sentem inseguros. As publicações que falam de complicações graves após a vacinação são falsas, produzidas para desestabilizar a população”, reiterou Ana Lúcia.
Dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que havia superlotação de 200% nas unidades de terapia intensiva (UTIs) pediátricas de MS, com 10 crianças internadas nesta quinta-feira diagnosticadas com a doença.
“As crianças têm tido várias complicações, inclusive a síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica [SIM-P]”, completou a infectologista.
“VACINA EXPERIMENTAL”
Conforme o pediatra Alberto Jorge, o contágio por coronavírus entre as crianças de 5 a 11 anos é muito intenso e grande parte da resistência para a imunização deste público ocorre pela insegurança dos pais, que insistem em classificar as vacinas como “experimentais”.
“Sabidamente, depois que os imunobiológicos são liberados pelo órgão regulatório, no nosso caso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa], eles já não são mais uma vacina experimental, é algo extremamente estudado, com um número grande de crianças previamente imunizadas”, explicou o pediatra.
Para Jorge, o carro-chefe que impede os índices de vacinação contra a doença avançar é o movimento antivacina.
“Os pais ficam se baseando em informações das redes sociais, onde os grupos antivacinas fazem declarações absurdas, infundadas e não verdadeiras, e isso deixa os pais inseguros”, reiterou.
Outro ponto que contribui para a estagnação da imunização das crianças são as dificuldades impostas pelo governo federal.
“O Ministério da Saúde não ajuda a fazer uma campanha nacional de divulgação para que as crianças sejam vacinadas”, disse o médico.
Para Alberto Jorge, as campanhas nacionais de vacinação, pioneiras no mundo na época da forte incidência de poliomielite, hepatite e tuberculose, ficaram no passado.
“Isso infelizmente não acontece agora com a vacina contra a Covid-19. Percebemos, ainda, que existem vários profissionais de saúde, inclusive colegas médicos, que também não estimulam a vacinação das crianças, uma ideia absurda, mas que existe”, afirmou.
FAKE NEWS
Em Campo Grande, é estimado que 93 mil crianças de 5 a 11 anos estejam aptas para a vacinação contra a Covid-19.
No entanto, apenas 29% deste público foi imunizado, por volta de 27 mil crianças, segundo a superintendente de Vigilância em Saúde, Veruska Lahdo.
“Ainda é considerado um índice muito baixo, não atingimos nem 30% de cobertura desse público”, disse. Conforme Lahdo, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) acredita que a veiculação de notícias falsas tem contribuído para a baixa procura pela vacinação por parte dos pais e responsáveis de crianças nessa faixa etária.
A reportagem permaneceu por mais de 40 minutos na Seleta, um dos pontos de vacinação contra a Covid-19 preparado para o público infantil na Capital.
Durante este tempo, apenas uma criança, William Ribeiro, procurou o local acompanhado da mãe, Luciene, para receber a primeira dose contra o coronavírus.
Para o infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, a desinformação vinda do próprio governo federal, que coloca como não obrigatória a vacinação das crianças, resulta na desestimulação dos pais a vacinarem os filhos.
“Existem muitas fake news [notícias falsas] que aumentaram a desconfiança em relação à imunização desse público. Talvez a gente não consiga reverter essa situação e aumentar os índices de vacinação das crianças, haja vista que o movimento antivacina é muito forte”, pontuou Croda.
DIA D
O Dia D de vacinação das crianças de 5 a 11 anos de idade ocorrerá hoje nos 79 municípios de Mato Grosso do Sul.
“Sabemos que as aulas já estão caminhando para o início, por isso, adotamos esta iniciativa para garantir que elas [crianças] estejam protegidas contra as variantes da Covid-19 em nosso Estado”, afirmou o titular da SES, Geraldo Resende.
116,4 mil doses pediátricas entregues no estado
Desde o início da vacinação de crianças de 5 a 11 anos, em 15 de janeiro, MS já recebeu do Ministério da Saúde 116.400 doses pediátricas da Pfizer.
A SES tem ainda 34 mil doses da vacina Coronavac, que pode ser aplicada no público infantil ou adulto.
Via Correio do Estado MS