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Dançarino cria espetáculo inspirado na luta contra a ansiedade e a síndrome do pânico

Redação
Em cena, dois outros dançarinos usam suas experiências pessoais como inspiração para a interpretação da narrativa de Lucas

Realizar um tratamento para a depressão nem sempre é um caminho fácil. Existem muitos tabus em relação à doença e ao uso de medicamentos, questões que o dançarino Lucas Miralles trouxe à tona no trabalho “Citá-lo pra Nós”, que aborda a saúde mental por meio da dança. Por conta da pandemia, a obra, que tem investimentos da Lei Aldir Blanc, foi publicada no YouTube e está disponível desde o dia 11 deste mês.

“Eu nunca fui diagnosticado com depressão, mas eu já estive muitas vezes em estado depressivo, que são coisas diferentes. Eu tive transtorno de pânico por um tempo, crises de ansiedade e junto vinha esse estado depressivo”, afirma Lucas, produtor, figurinista e diretor do projeto.

Em cena estão dois dançarinos convidados, Gui Dantas e Thaysa Coin, que também usam suas experiências pessoais como inspiração para a interpretação da narrativa de Lucas. Thaysa, por exemplo, que atualmente não precisa mais tomar remédios, passou cerca de 10 anos de sua vida escondendo a depressão.

“Demorei muitos anos com depressão para começar a tomar remédio, acho que eu devia ter depressão desde os meus 13 anos, mas fui conseguir de fato buscar ajuda com 23. Até então, jurava que o que sentia era normal, e após uma semana com os remédios percebi a mudança na minha disposição, como se a vida tivesse cor novamente. Era como se eu não soubesse que a vida poderia ser sentida de outra forma”, conta.

Durante um período, a medicação foi sinônimo de alegria.

“Hoje em dia, eu não me sinto como uma pessoa com depressão, porém, sei que tenho tendência à depressão por genética e pela minha história de vida, então tento viver um dia de cada vez, me observando constantemente para que, caso eu perceba qualquer tipo de gatilho, eu possa controlar antes que fique algo mais grave”, pontua.

Com depressão desde os dez anos, Gui Dantas chegou ao fundo do poço convivendo com a doença. Desenvolveu distúrbios alimentares, automutilação e chegou a tentar suicídio algumas vezes. A luz no fim do túnel para Gui foi o tratamento psiquiátrico.

“Foi quando retornei da clínica psiquiátrica que decidi me aplicar em meu tratamento, pois não conseguia mais viver daquele jeito e decidi dar uma chance de verdade. Vivo em tratamento há alguns anos e me sinto muito melhor. Me abri para tratamentos de vários tipos e fui buscando meu desenvolvimento pessoal e saúde completa”.

Felizmente, as crises dele chegam a ser quase inexistentes atualmente. “É legal saber que consigo lidar com tudo de uma maneira melhor. Hoje tenho esperança”, comemora Gui.

Medicamentos

As caixas de remédios também estão presentes no vídeo, como parte de uma longa jornada que os intérpretes precisaram cumprir.

“O que foi receitado para mim foi esse remédio, o citalopram, que é um inibidor de serotonina, e ele é um remédio muito comum de ser receitado por médico e clínico geral, principalmente na saúde pública, porque muitas vezes ele é encontrado nas farmácias dos postos de saúde, então, não é nem psiquiatra quem receita. Muitas vezes é médico mesmo, ele é realmente muito eficaz”, diz Lucas.

Ele explica que quando resolveu ler a bula do remédio se surpreendeu com as informações contidas no medicamento.

“Eu já fazia uso há algum tempo quando eu resolvi ler a bula, o que é uma das minhas críticas também, não temos esse costume, mas é importante”, frisa. “Eu fui ver que o efeito dele começa depois de duas semanas, mas, tanto para mim quanto para quem dançou no trabalho, essa mudança foi percebida de uma forma bem mais rápida, aí a gente não sabe se é o efeito do medicamento ou se é o efeito placebo”, pontua.

Para Lucas, é importante falar sobre a depressão e a saúde mental.

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