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Entrevista

Crise também é causada pela mudança de hábitos de consumidores, diz especialista

Redação

[Via Folha de São Paulo]

Contrariando as expectativas mais pessimistas, um dos maiores autores sobre o mundo dos negócios, César Souza avalia que o momento de crise pode ser uma boa oportunidade para empreender e trabalhar no próprio negócio.

Autor de best-sellers como "Você É do Tamanho dos Seus Sonhos", "Você Merece Uma Segunda Chance", "Superdicas para Conquistar Clientes e para um Atendimento 5 Estrelas" e "Clientividade", Souza lançou recentemente o livro "Jogue a Seu Favor"pela editora Best Business.

Na obra ele conta a história de uma mulher que decide trabalhar por conta própria. Após perder o emprego e se perceber em uma encruzilhada em sua vida profissional, pessoal e familiar a protagonista Ceres consegue virar o jogo a seu favor.

César Souza falou com a Livraria da Folha. Na entrevista ele afirma que além da recessão e do desemprego, a crise também é causada "pela mudança de hábitos de consumidores que não tem sido percebida pelas empresas tradicionais" e "pelo baixo nível de atendimento que é oferecido aos poucos clientes que as empresas possuem".

Leia abaixo a entrevista com autor.

Divulgação
César Souza, autor do livro "Jogue a Seu Favor"
César Souza, autor do livro "Jogue a Seu Favor"

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Em meio às crises política e econômica em que o Brasil se encontra, estamos em um bom momento para investir no próprio negócio?

Sim! Contrariando o senso comum, o momento é muito bom se o negócio próprio tem fundamentos saudáveis. A crise está evidenciando uma migração de hábitos de consumidores que desejam produtos e serviços diferenciados e prestados de forma diferente. Essa migração abre muitas possibilidades para novos negócios. Exemplo: restaurantes tradicionais estão com baixa ocupação de mesas. Mas Food Trucks estão bombando. Lojas tradicionais em shopping centers estão com vendas declinando. Mas portais de vendas online estão bombando. Escolas tradicionais estão com menos matrículas de alunos. Mas educação à distância está bombando. Cooperativas de taxis estão com problemas, mas a 99 taxi está bombando. Ou seja, os negócios tradicionais estão perdendo espaço para modelos de negócios inovadores.

O cuidado que se deve ter em momento de crise é entender com profundidade o que os clientes de fato desejam e valorizam; abrir um negócio que corresponda a sua vocação de empreendedor, que o mesmo tenha paixão; não se endividar para abrir um negócio, pois nenhum deles vai dar um retorno superior aos juros exorbitantes cobrados por bancos.

A crise não é apenas causada pela recessão e pelo desemprego de 12 milhões de pessoas. A crise é causada também pela mudança de hábitos de consumidores que não tem sido percebida pelas empresas tradicionais. A crise também é causada pelo baixo nível de atendimento que é oferecido aos poucos clientes que as empresas possuem.

Vou dar mais um exemplo de inovação: enquanto muitos restaurantes fecham em São Paulo, o badalado Chef Olivier Anquier abriu uma filial do seu L´Entrecôte d´Olivier. Veja só, qual o diferencial? Esse restaurante serve apenas uma opção de menu: salada, o entrecôte com batatas fritas e a mousse de chocolate. Tudo uma delícia. Local muito confortável, a preço acessível. Por que? Porque ao servir apenas um prato, ele consegue uma enorme racionalização das compras, estoque e preparação, uma eficiência operacional tremenda e oferece preços melhores que os restaurantes do mesmo nível. Trata-se do baixo custo com ótima qualidade. E excelente qualidade de atendimento. Essa a chave do sucesso.

Uma boa opção de abrir negócio na crise é escolher uma franquia bem testada e ainda não saturada no mercado.

Em "Jogue a Seu Favor" você narra a história de uma mulher que é demitida e começa a trabalhar por conta própria. Por que optou por esta estrutura?

Optei por essa história narrada por uma mulher em primeira pessoa, por vários motivos. Primeiro, uma homenagem as mulheres competentes, esforçadas e que tem sido as primeiras a serem demitidas quando a corda aperta. Segundo pelo fato de várias mulheres estarem se tornando empreendedoras. Terceiro, pela história de superação. Conheço mais mulheres se reinventando e se superando do que homens.

E em vez de um livro acadêmico, cheio de teorias de empreendedorismo, preferi fazer algo acessível, de leitura agradável e que pudesse "tocar" nas pessoas, criando um ambiente de identificação com a personagem, a Ceres da história que passa a jogar a seu favor. Passa a procurar clientes, em vez de empregos. Passa a assumir as rédeas do seu destino. E, ironicamente, passa a criar empregos para outros. Empreender é a forma de inclusão social mais forte que conheço, mais autêntica e autossustentável.

Atualmente há mais mulheres ou homens por trás de novos empreendimentos? Por quê?

As mulheres têm mais flexibilidade que os homens. São mais corajosas. O homem, falo aqui na maioria que conheço, quando perde o emprego se deprime, fica envergonhado. A mulher, mais rapidamente, parte para a luta!

Que dicas você pode dar para quem está vivendo uma história parecida com a de sua personagem?

Que leia o livro (risos) e tente seguir a metodologia que proponho dando os sete passos mais importantes: 1) escolha um negócio muito próximo da sua vocação e prazer; (2) defina um posicionamento para seu negócio, ou seja, o diferencial, para não ser apenas mais um no mercado; (3) defina com clareza o tipo de cliente que você quer servir, a razão de existência do seu negócio; (4) escolha as pessoas certas, com o perfil adequado ao negócio; (5) defina com clareza os resultados quantitativos e os qualitativos que deseja obter; (6) estruture os sistemas e processos mínimos para você ter controle do negócio (fluxo de caixa, controle de clientes, estrutura de estoques, etc.); (7) Cuide-se; cuide tão bem de você (saúde, família, cidadania, etc.) quanto do negócio.

Finalmente, o 8º passo: monte um Plano de Negócios com Alma, ou seja, um instrumento de diálogo com sócios, investidores, parceiros, equipe, familiares, que possa servir de guia para seu progresso. Esse Plano é uma espécie de "Waze" do seu negócio, a rota que deverá seguir e corrigir se algo der errado no caminho.

O que é mais importante na hora de começar o próprio negócio?

O mais importante é escolher um negócio com o qual você tenha afinidade, paixão. Não vá atrás de modismos, ou do que o mercado está pedindo pois se esse negócio, por melhor que seja, estiver longe da sua realidade, de seu amor, da sua vocação, as chances de dar certo diminuem muito.

Por que muitos empreendedores quebram?

Por não estarem preparados para a gestão do negócio. Cerca de 25% da taxa de mortalidade dos novos negócios é devido a esse fator: falta de capacitação! Por isso, junto com três sócios, fundei o Espaço do Empreendedor, uma "escola de empreendedorismo" muito diferente, com alto valor e baixo custo para que o empreendedor de forma rápida, pragmática e direta, possa se autodiagnosticar e ir em busca das competências que precisa adquirir na Gestão de Clientes, Pessoas ou Resultados.

Em que tipo de negócio é mais seguro investir atualmente? Em startups ou empresas mais tradicionais? Qual a diferença entre eles?

O mais seguro é investir aonde está sua vocação, sua paixão. Uma forma mais segura é começar com uma franquia, sendo um franqueado. Ou pelo menos antes de abrir um negócio novo, passar um tempo em um negócio similar existente. Exemplo: quer montar uma oficina mecânica? Passe três meses dentro de uma. Que montar a tão sonhada pousadinha? Vá trabalhar um mês na pousada e conheça a realidade do que é ser dono de uma pousada.

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