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Com auxílio da Unicamp, OMS propõe novo parâmetro de crescimento fetal

Redação

[Via G1]

A sabedoria popular prega que não devemos “medir o outro com a nossa régua”, mas ao se acompanhar o desenvolvimento de um feto, espera-se que ele aconteça dentro de uma faixa pré-estabelecida de normalidade.

Para corrigir possíveis distorções em diagnósticos de crescimento fetal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o uso de uma nova referência, um padrão internacional de crescimento fetal que foi elaborado com ajuda da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e que contou com a participação de 10 países.

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Uma diferença de 50 gramas, para mais ou para menos, faz a diferença de ter um bebê considerado com um peso insuficiente ou com peso normal e isso tem uma série de implicações práticas e clínicas com relação à investigação recomendada na sequência de um diagnóstico”
José Guilherme Cecatti, professor da FCM

José Guilherme Cecatti, professor titular de Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e um dos autores do estudo da OMS, avalia que a utilização desse novo padrão internacional  pode evitar procedimentos desnecessários e maiores gastos, tanto do setor privado quanto público, para monitorar uma gestação que, usando essa nova curva como referência, possa ser considerada normal.

"Uma diferença de 50 gramas, para mais ou para menos, faz a diferença de ter um bebê considerado com um peso insuficiente ou com peso normal e isso tem uma série de implicações práticas e clínicas com relação à investigação recomendada na sequência de um diagnóstico", explica.

Réguas diferentes
O professor destaca que são vários as curvas de referência existentes para exames de ultrassonografia no mundo, mas que pela tradição de influência cultural e científica, é o padrão norte-americano o mais utilizado, o que pode causar distorções em algumas avaliações. “Esse é um padrão fundamentalmente baseado em mulheres de origem anglo-saxônica, brancas, onde o padrão de crescimento fetal é ligeiramente superior que esse padrão internacional.”

De acordo com Cecatti, no padrão internacional, todo o limite é “um pouco mais para baixo.” “Existe uma perspectiva, de quem trabalha com aparelho de ultrassom, principalmente em países de média renda, como é o caso do Brasil, de mudar esse padrão americano de referência que já vem embutido nos aparelhos, atualizando-o para a curva internacional da OMS”, aponta Cecatti.

José Guilherme Cecatti, professor da FCM da Unicamp (Foto: Antonio Scarpinetti/Unicamp)
José Guilherme Cecatti, professor da FCM da
Unicamp (Foto: Antonio Scarpinetti/Unicamp)

Aplicação
As curvas de crescimento aferidas no estudo trazem informações sobre circunferência da cabeça e do abdome, do comprimento do úmero (o osso que vai do ombro ao cotovelo) e do fêmur, além de estimativas do peso do feto, feitas a partir dessas medições.

A utilização dessas referências obtidas no estudo que contou com a participação da Unicamp, no entanto, não tem prazo para acontecer. "O que ocorreu foi uma publicação do artigo com uma recomendação oficial da OMS, de que um novo padrão de crescimento fetal relativo as medidas biométricas que normalmente são feitas no bebê, passem a ser utilizadas porque tem uma provável maior representatividade internacional considerando a maior representividade étnica. Mas não tem poder de lei", ressalta José Guilherme Cecatti.

Segundo o professor, a adoção da curva internacional depende dos diferentes países, com seus órgãos responsáveis pela saúde, adotarem isso. "Eu acredito que diferentemente de outras situações, esse será um procedimento mais fácil, que não implica gastos. É uma mudança de um padrão de referência que vem embutido dentro das máquinas de ultrassom. É quase da mesma forma que você embute um software em um computador", compara.

Perfil das mulheres
A etapa brasileira contou com a avaliação de 157 grávidas. Ao todo, o estudo acompanhou a gestação de mais de 1,3 mil mulheres em 10 países. Além de Brasil, Alemanha, Argentina, República Democrática do Congo, Dinamarca, Egito, França, Índia, Noruega e Tailândia participaram da pesquisa.

As mulheres que participaram do estudo eram saudáveis e apresentavam gestações de baixo risco. A medida foi tomada para evitar que os resultados fossem contaminados por fatores externos, como desnutrição ou doenças.

O que chamou a atenção do pesquisador foi o fato de as crianças indianas apresentarem um crescimento abaixo das demais. "Não tem relação com a situação sócio-econômica ou nutricional, já que havia um critério para mulheres participarem do estudo. Provavelmente por diversidade étnica, a Índia apresentou um perfil de desenvolvimento dos fetos que é diferente dos demais. As crianças indianas são realmente menores."

Exame de ultrassonografia realizado no Caism da Unicamp (Foto: Antonio Scarpinetti/Unicamp)Exame de ultrassonografia realizado no Caism da Unicamp (Foto: Antonio Scarpinetti/Unicamp)

Cesárea chama atenção
Entre as brasileiras estudadas no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism) da Unicamp, um dado destoou. "O número de cesárea chamou a atenção. Já é conhecido que o índice brasileiro é enorme, mas isso não interferiu no estudo. O que ocorreu é que estava prevista uma avaliação ultrassonográfica ao redor da 39ª semana, mas aqui houve uma proporção menor de mulheres que fez. Uma parte já tinha dado à luz", comentou Cecatti.

Só para efeito de comparação, apenas 28,5% das mulheres brasileiras participantes do estudo tiveram parto natural, o menor índice entre os 10 países participantes do estudo. República Democrática do Congo (94,5%), Noruega (91,1%), França (85,1%), Dinamarca (83,3%) e Alemanha (73,2%) registraram os maiores índices de partos espontâneos.

"É preciso destacar que nós, da Unicamp, não tínhamos o controle sobre isso. Muitas mulheres que participaram do estudo tinham seus médicos privados e a decisão do parto não coube a nós", completou Cecatti.

Exame de ultrassonografia realizado no Caism da Unicamp (Foto: Arquivo pessoal)Pesquisa realizada no Caism da Unicamp acompanhou 157 mulheres (Foto: Arquivo pessoal)
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