Campo Grande se torna a 1ª cidade do Centro-Oeste com território protegido pelo Método Wolbachia
Mais de 900 mil pessoas foram beneficiadas com a iniciativa
A implementação do Método Wolbachia foi concluído em Campo Grande. O processo foi dividido em seis fases, alcançando 74 bairros nas sete regiões urbanas. Ao todo, mais de 900 mil pessoas foram beneficiadas com a iniciativa, que visa reduzir o número de casos de doenças provocadas pelo mosquito Aedes aegipy, como a dengue, zika e a febre chikungunya.
Dessa forma, Campo Grande se tornou a primeira cidade de todo o Centro-Oeste Brasileiro a ter o seu território completamente protegido pelo método. Desde o início do planejamento, em 2019, e o começo das operações, em 2020, o projeto tem alcançado resultados positivos.
Em seis fases, abrangeu 74 bairros e sete regiões urbanas, atendendo aproximadamente 130.000 pessoas por fase. Durante todo o período, mais de 900.000 pessoas foram beneficiadas, com a produção de aproximadamente 2,7 kg de ovos, 870.000 tubos e a liberação de 102 milhões de mosquitos.
A superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, Veruska Lahdo, lembrou que a última epidemia de dengue foi em 2019, quando mais de 40 mil casos foram notificados. “Nesse mesmo ano, demos um grande passo no combate às doenças causadas pelo Aedes aegypti com a implantação do Método Wolbachia”.
“Foi um grande desafio para a capital, especialmente porque não esperávamos enfrentar uma pandemia logo no início das atividades em 2020. Tivemos que fazer vários arranjos para que, em dezembro de 2020, pudéssemos iniciar a liberação dos mosquitos no ambiente”, completou.
Para a superintendente, a participação e o apoio dos parceiros e dos servidores foram fundamentais para o sucesso na implementação do método na capital. “Foram quatro anos de muito trabalho. O Método Wolbachia trouxe uma grande esperança para todos nós na redução da transmissão de doenças graves como dengue, Zika e chikungunya”, conclui.
Segundo a superintendente, os casos de dengue, doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, têm se mantido estáveis em Campo Grande. Há dois anos o município não enfrenta uma epidemia da doença.
“É importante ressaltar que os resultados começam a ser observados a partir de dois após o término das liberações dos Wolbitos. Em Campo Grande as liberações foram finalizadas em dezembro de 2023. Seguimos fazendo o monitoramento do estabelecimento da Wolbachia no município. Estamos contentes com a finalização desse projeto que é para todos. Um trabalho que leva mais saúde para a população. ”, conta Luciano Moreira.
Ovo carioca, mosquito pantaneiro
Para potencializar a implementação do método, Campo Grande ganhou uma biofábrica para a produção desses mosquitos. Os ovos do Aedes aegypti com Wolbachia eram enviados do Rio de Janeiro e acompanhados até a fase adulta na biofábrica local, onde eram liberados em ciclos de 16 semanas. Assim, nasciam em berço campo-grandense os mosquitos pantaneiros com Wolbachia.
Uma das estratégias utilizadas foi o Dispositivo de Liberação de Ovos (DLO) na região das Moreninhas, conhecido como “Casa do Wolbito”. Esta estratégia envolveu a comunidade na liberação de ovos de mosquitos com Wolbachia.
Engajamento comunitário
O engajamento comunitário é fundamental para a implementação do Método Wolbachia. Cerca de 500 agentes foram capacitados para dialogar com a população, esclarecer dúvidas e apresentar o funcionamento do método. Durante esta etapa, 385.000 pessoas foram diretamente alcançadas.
Campo Grande possui uma forte representação indígena, e a comunicação com estas comunidades incluiu reuniões com as lideranças das aldeias Marçal de Souza, Estrela do Amanhã e Água Bonita, além da produção de vídeos em línguas indígenas.
Com o objetivo de intensificar o estabelecimento dos Wolbitos, Campo Grande desenvolveu a iniciativa “Wolbito em Casa”, que envolveu 1.695 alunos de 17 escolas municipais. Esses alunos levaram cápsulas com ovos de Wolbachia para casa e cuidaram de seu desenvolvimento.
O gestor de implementação do Método Wolbachia em Campo Grande, Antônio Brandão, destacou que a estratégia contribuiu para o estabelecimento dos Wolbitos no território onde esses alunos residem e também para seu aprendizado. “Foi uma estratégia muito importante, pois em nenhum local do mundo nós conseguimos fazer algo nestas proporções, contribuindo assim no estabelecimento dos mosquitos”, diz Brandão.
Na avaliação da secretária municipal de Saúde, Rosana Leite de Melo, a implementação do Método Wolbachia em Campo Grande representa um marco significativo no combate às doenças transmitidas pelo Aedes aegypti.
“Temos grandes expectativas em relação ao estabelecimento dos mosquitos com Wolbachia na natureza, o que deve se perpetuar ao longo do tempo, contribuindo para que nossa cidade mantenha baixos índices de doenças como dengue, Zika e chikungunya. Este é, sem dúvida, o maior legado que podemos esperar de um projeto tão importante. A continuidade e a eficácia desta estratégia inovadora nos trazem esperança e reafirmam nosso compromisso com a saúde e o bem-estar da população de Campo Grande”, conclui.
Sobre o Método Wolbachia
O Método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com a bactéria Wolbachia, que impede que os vírus da dengue, Zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam dentro do mosquito. Esses mosquitos se reproduzem com os mosquitos locais, gerando uma nova população com Wolbachia. Com o tempo, a porcentagem de mosquitos infectados com a bactéria aumenta, eliminando a necessidade de novas liberações.
A eficácia do método é comprovada. No Brasil, houve uma redução de até 70% nos casos de dengue e de 60% nos casos de chikungunya em Niterói, que se tornou o município com menor número de casos de dengue no Estado do Rio de Janeiro, registrando apenas nove casos até abril de 2023.
ATENÇÃO
Os mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia não são modificados geneticamente. Também não se deve utilizar a expressão Aedes do Bem (ou mosquitos do bem), pois se trata da marca registrada de outra técnica, diferente do Método Wolbachia.
Via Enfoque MS