Com ares de superprodução, Globo reproduz saga de “Pantanal” no horário nobre
Depois de 30 anos, Bruno Luperi é o responsável por recriar a obra do avô dentro da atualidade
Originalmente exibida em 1990 pela extinta Manchete, a trama de “Pantanal” marcou a história da teledramaturgia, lançou inúmeros talentos na tevê e cristalizou na memória do público todo um universo criado por Benedito Ruy Barbosa. Agora, mais de 30 anos depois, a Globo convocou Bruno Luperi, neto do veterano autor, recontar a história.
À frente do texto do “remake” da obra de Benedito, que estreia nesta segunda, dia 28, o jovem roteirista assumiu a missão de recriar a obra do avô dentro do contexto contemporâneo.
“O tempo é um agente fundamental na adaptação de ‘Pantanal’. Há 30 anos, a grande inovação tecnológica era o rádio e a luz chegava por gerador. A internet chegou, as fronteiras diminuíram. Aquela dramaturgia proposta há 30 anos acontece hoje à luz do nosso tempo, nos dias de hoje, nos dilemas de hoje. Vai ser a mesma história, mas com os dilemas de hoje. Alguns assuntos que dataram serão reorganizados, comportamentos mudaram… A dramaturgia, porém, é a mesma. Tem de respeitar esse clássico da teledramaturgia”, explica Luperi.
O autor Bruno Luperi, o diretor artístico Rogério Gomes, o cenógrafo Alexandre Gomes de Souza e a gerente de produção Luciana Monteiro foram os primeiros a pousarem no Pantanal ainda em 2020. Eles foram em busca das primeiras locações para as gravações.
O local escolhido fica a cerca de quatro horas da cidade mais próxima, Aquidauana. Entre funcionários das fazendas, transporte, equipe e elenco, cerca de 150 pessoas estiveram envolvidas diretamente com as gravações no Pantanal no segundo semestre de 2021.
“É difícil não deixar o Pantanal sobressair nessa novela. Ele é o protagonista da história. A novela foi concebida pelo Benedito no Pantanal. Quando ‘Pantanal’ foi ao ar originalmente, eu fazia uma novela na Globo. Tivemos de lutar muito por conta do barulho da trama da Manchete”, ressalta o diretor artístico Rogério Gomes, que, inclusive, está de saída da Globo após finalizar a primeira fase do folhetim das nove.
Passado e presente
Pouco mais de 30 anos separam as duas versões de “Pantanal”.
Porém, mesmo com a longa passagem do tempo, o “remake” assinado por Bruno Luperi ainda traz algumas ligações especiais com a edição original. Marcos Palmeira, que viveu o personagem Tadeu na obra de Benedito Ruy Barbosa, retorna ao folhetim como o protagonista José Leôncio na segunda fase da história.
“Foi uma surpresa esse convite. É como se fosse um novo ciclo 30 anos depois. ‘Pantanal’ foi uma novela muito importante para mim. Acho que estamos renascendo dentro dessa história. É a releitura de um clássico. Você pode fazer vários Hamlet, não é? Acho que funciona assim com as obras do Benedito também”, explica.
Outro nome que volta ao novo enredo é Almir Sater, que deu vida ao peão Trindade na novela de Benedito, agora interpreta o condutor de chalana Eugênio no texto de Bruno. O cantor e ator, inclusive, é dono de terras no Pantanal há mais 30 anos. Ele comprou logo que as gravações, dirigidas por Jayme Monjardim, terminaram.
“‘Pantanal’ foi um divisor de águas na minha vida. Comecei a trabalhar muito, como nunca antes, ganhei meu dinheirinho e logo comprei essas terras”, relembra.
Além da nostalgia da versão original, Almir também foi presenteado com novas emoções na trama das nove. Ele contracenará ao lado do filho Gabriel, que interpretará Trindade.
“O Bruno criou uns enfrentamentos do Trindade com o Eugênio, enfrentamentos musicais. Eu falei para o meu filho: não vou dar moleza, hein? Meu filho toca bem, toca violão erudito. Há uns anos começou a estudar viola. É um cara que se dedica muito. Eu espero que o personagem Trindade seja tão bom para ele quanto foi para mim”, derrete-se.
Quem é quem?
Núcleo Fazenda Leôncio
Peão e ponteiro de uma comitiva, Joventino (Irandhir Santos) faz seu nome movimentando boiadas pelos sertões. Por onde quer que passe, é tido como o maior entre todos os peões.
Pai de José Leôncio (Drico Alves/Renato Góes/Marcos Palmeira), cria o filho para manter seu legado. Após o desaparecimento de Joventino, José Leôncio não se conforma.
Pai de Jove (Jesuíta Barbosa), Tadeu (José Loreto) e José Lucas de Nada (Irandhir Santos), carrega, além de suas amarguras, a frustração de nunca ter sido para nenhum dos três filhos o que o velho Joventino foi para ele.
Sem se fixar em nenhuma relação romântica, José Leôncio se surpreende com a chegada de Filó (Leticia Salles/Dira Paes).
Ela surge grávida de Tadeu na fazenda, onde passa a viver e trabalhar como empregada. Vira fera para proteger José Leôncio contra tudo e contra todos, disposta a trair até mesmo os seus sentimentos pelo bem do patrão.
Mansão Novaes
Eloquente, educado e sagaz, Antero Novaes (Leopoldo Pacheco) é um bon-vivant, um tipo tão polido quanto dissimulado.
Embora não seja absolutamente honesto, é bem intencionado. Pertence a uma família tradicional da alta sociedade, casado com Mariana (Selma Egrei), com quem tem duas filhas, Madeleine (Bruna Linzmeyer/Karine Teles) e Irma (Malu Rodrigues/Camila Morgado).
Madeleine é provocante, subversiva por natureza, sensual e arrebata corações por onde vai. Por isso, embora sob a marcação acirrada da mãe, vive rodeada de amigos.
Enquanto a irmã, Irma, segue a cartilha da mãe, Madeleine adota um comportamento parecido com o do pai, armando e blefando para conseguir o que quer.
Após se apaixonar por José Leôncio, Madeleine dá à luz Jove (Jesuíta Barbosa).
Inteligente e irreverente, ele é um jovem que, embora tenha nascido no Pantanal, se torna um ser absolutamente urbano.
Vai para o Pantanal conhecer o pai e descobre que é a antítese de seu pai peão.
Lá, conhece Juma (Alanis Guillen), com quem descobre que suas raízes estão plantadas naquelas terras.
Irma (Malu Rodrigues), Mariana (Selma Egrei), Madeleine (Bruna Linzmeyer) e Antero (Leopoldo Pacheco) – (Foto: Divulgação)
Núcleo Tapera
Gil (Enrique Diaz) é um homem ingênuo que é enganado no Sarandi, no Paraná, e ao reagir comete um crime.
Acaba fugindo para o Pantanal ao lado de Maria Marruá (Juliana Paes), onde tenta reconstruir sua vida. Engravida de Juma (Alanis Guillen), e encara a chegada da filha como uma maldição e, logo após o parto na beira do rio, pensa em abandoná-la numa canoa rio abaixo.
O destino, porém, trata de juntá-las. Tal qual a mãe, Juma incorpora Marruá. Mais do que o nome, a forma selvagem e visceral de viver.
De Maria, Juma herda os hábitos, as artes da caça e a capacidade de não depender de ninguém para nada.
Núcleo Tenório
Tenório (Murilo Benício) vem do Paraná para o Pantanal com um passado que prefere esconder.
Fazendeiro, marido de Maria Bruaca (Isabel Teixeira) e pai de Guta (Julia Dalavia), é um sujeito prático, frio e extremamente racional. Na sua visão cínica, não há justiça nem mérito.
Tenório não tem o menor respeito pela esposa. Maria é uma mulher madura e maltratada, tanto pela vida quanto pelo marido, que se consola pela relação com a filha, Guta.
Por isso sofre quando ela parte para São Paulo para estudar, e seu retorno é motivo de alegria e companhia para Maria, que vive de forma muito solitária.
Maria não desconfia que Tenório tem uma amante em São Paulo, muito menos que tem filhos com ela. Para a família, é um homem moralista, retrógrado, conservador e preconceituoso. Daí a surpresa quando Guta descobre que o pai tem outra família.
Núcleo protetores do Pantanal
Ponto de contato entre o mundo físico e espiritual e a síntese de uma consciência ecológica coletiva, o Velho do Rio (Osmar Prado) é um ser encantado. Uma espécie de guardião do Pantanal. Apresenta-se vezes em forma de gente, vezes em forma da maior sucuri já vista.
Outro ser místico do Pantanal é Eugênio (Almir Sater). Condutor de chalana desde que se compreende por gente, ele é também uma figura mítica, assim como Trindade (Gabriel Sater) e o Velho do Rio.
Eugênio e sua chalana têm um propósito espiritual muito forte: carregar as almas, eliminar o mal, purificar e trazer vida nova, preservando o equilíbrio daquele paraíso.