Uso de agrotóxicos coloca antas em risco na região do cerrado de Mato Grosso do Sul
[Via Correio do Estado]
O uso indiscriminado de agrotóxicos no Cerrado de Mato Grosso do Sul coloca em risco antas que vivem na região. Pesquisa realizada pela Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), apontou que 40% das 116 amostras coletadas, com animais capturados em armadilhas (para instalação de colares de monitoramento) e em carcaças de exemplares mortos por atropelamento, estavam contaminadas com resíduos de produtos tóxicos, incluindo inseticidas organofosforados, piretróides, carbamatos e metais pesados.
“Os resultados provenientes da análise de amostras biológicas de antas nos fizeram pensar de forma mais ampla sobre a problemática do uso indiscriminado de agrotóxicos no Cerrado. Aparentemente, encontramos uma conexão bastante clara entre a pulverização aérea, a cana-de-açúcar, os inseticidas e a contaminação ambiental. Nesse caso, a anta está servindo como ‘espécie sentinela’, capaz de demonstrar os riscos presentes no meio ambiente onde outras espécies da fauna, animais domésticos e comunidades rurais vivem”, defende Patrícia Medici, coordenado do Incab/IPÊ.
A detecção de agentes tóxicos em amostras confirma que as antas estão expostas a essas substâncias no ambiente que habitam, por contato direto com as plantas, solo e água contaminados. A análise estomacal demonstra exposição pela ingestão de plantas nativas contaminadas e de itens das culturas agrícolas eventualmente utilizados como recurso alimentar.
A detecção de resíduos de agrotóxicos em amostras de fígado e sangue demonstra que ocorre a metabolização dos agentes tóxicos pelo organismo do animal, o que o predispõe a processos capazes de interferir na sua longevidade, estado de saúde ou em aspectos reprodutivos extremamente relevantes para a viabilidade da espécie.
Com amostras de unha e osso, os pesquisadores também avaliaram o acúmulo de substâncias tóxicas (especialmente de metais pesados) no organismo dos animais ao longo dos anos. “Todas as substâncias detectadas possuem algum nível de toxicidade e podem desencadear processos fisiológicos com implicações importantes para a saúde dos animais afetados, particularmente nas respostas endócrinas, neurológicas e reprodutivas. A maioria dos estudos sobre o assunto aborda os efeitos agudos ou imediatos da intoxicação, mas pouco se sabe sobre o impacto da exposição crônica a estas substâncias ao longo de meses ou anos”, pontuou Patrícia.
*Com informações do Instituto IPÊ