Quando mercado precifica crise econômica antes dela começar, é urgente estancar o processo
Ignorar, desqualificar, demonizar e, pior, resistir à mudança de rumos diante do que está por vir, não só acelera a instalação da crise, como pode intensificá-la
O dólar bateu recorde mais uma vez nesta terça-feira (17), chegando a atingir R$ 6,20 durante o dia, mesmo depois de mais duas intervenções do BC — já são 7 operações em dezembro, mais de US$ 12 bilhões injetados no mercado.
Do meio da tarde para frente, a moeda americana finalmente cedeu e passou a cair — o gatilho foi a chance de aprovação do pacote fiscal na Câmara dos Deputados.
No mercado de juros futuros, as taxas negociadas indicam que a Selic pode passar de 17% nos próximos meses.
O Tesouro Nacional encontra dificuldade de vender títulos sem aceitar elevadíssimos prêmios de risco exigidos pelos investidores.
Este cenário é reflexo de uma crise de confiança já instalada e o prenúncio de uma crise econômica num futuro muito próximo, sendo precificada com antecipação pelo mercado financeiro, como normalmente acontece.
Ignorar, desqualificar, demonizar e, pior, resistir à mudança de rumos diante do que está por vir, não só acelera a instalação da crise, como pode intensificá-la.
O governo insiste que, mais uma vez, o país vai crescer mais de 3% e o desemprego é o mais baixo em dez anos.
Os porta-vozes da ala política atacam o Banco Central, que já está praticamente comandado pelos escolhidos por Lula, e a equipe econômica desdenha a desconfiança dos agentes econômicos na potência do pacote fiscal.
Economistas experientes ouvidos pelo blog alertam para o fato dessa receita de crise aguda que poderia ter sido evitada se a convicção do governo fosse outra.
A crença no estímulo estatal sem limites como indutor do crescimento desafia a teoria, mas, acima de tudo, o histórico do próprio governo petista. A fórmula bateu no limite das contas públicas e nem o governo, nem o Congresso Nacional, parecem dar importância.
Ao mesmo tempo, gestores e economistas mais maduros reconhecem que há uma “juniorização” do mercado financeiro no Brasil, o que alimenta a percepção sobre a “birra” da Faria Lima com governo Lula.
Em momentos assim, a especulação encontra espaços maiores para agravar o quadro, mas a grande maioria dos investidores perde quando preços dos ativos se descolam dos fundamentos e desvalorizam.
A ressalva explica parte do comportamento e declarações de operadores, mas não alivia a gravidade do desarranjo que a economia brasileira está agora, caminhando rapidamente para uma crise real no país.
A chamada profecia autorrealizável é uma ameaça em países emergentes, especialmente aqueles com as contas públicas desequilibradas, caso do Brasil. É urgente estancar esse processo.
Via CNN Brasil