MS tem 1,056 milhão de inadimplentes mesmo após 19 mil acordos no Desenrola
Somente em novembro, foram registrados 2.860 novos consumidores na lista de negativados em Mato Grosso do Sul
O programa Desenrola Brasil registra um total de R$ 13,490 milhões em renegociações, resultado de acordos com 19.149 pessoas em Mato Grosso do Sul. Apesar do índice positivo, o número de pessoas na lista de negativados no Estado continua aumentando. Conforme o Mapa da Inadimplência da Serasa Experian, em novembro, foi contabilizado 1,056 milhão de pessoas com nome restrito, alta de 0,28% em relação ao mês anterior.
Enquanto o número de inadimplentes cresce, o Censo Nacional do Programa Desenrola Brasil, divulgado no início deste mês pelo Ministério da Fazenda e a Bolsa de Valores do Brasil, indica um montante de R$ 49,182 milhões em dívidas disponíveis para renegociação.
Em dados gerais, MS aparece na 14ª posição em número de negociações entre os estados brasileiros. Foram 41.819 contratos renegociados por 19.149 CPFs, o que corresponde a R$ 13.490.997,00 em valores negociados.
Campo Grande figura entre as 30 cidades com mais operações efetuadas, ocupando a 8ª colocação, com 10.493 mil CPFs limpos e mais de 12,2 mil negociações efetivadas que totalizaram R$ 7.497.017,00 em valores renegociados.
Entre outubro e novembro deste ano, 2.860 pessoas tiveram o nome negativado. Retrospectivamente, janeiro atingiu a marca histórica de 1 milhão de pessoas inadimplentes e, desde então, o número teve altas sucessivas, com exceção apenas para junho e agosto, quando houve uma pequena redução em comparação aos meses anteriores. Em junho o decréscimo porcentual de pessoas com o nome sujo foi de 0,26%, enquanto em agosto foi somente de 0,03%.
A lista de negativados voltou a ganhar novos nomes em setembro (1,046 milhão) e outubro (1,053 milhão). Na comparação entre os meses, o aumento foi de 0,66%.
O mestre em Economia Lukas Mikael explica que os feirões de dívida e o programa Desenrola do governo federal tiveram sua parcela de contribuição, porém, ainda assim, o resultado é insatisfatório quando relacionado ao elevado nível de endividamento da população economicamente ativa do Estado.
“O cenário externo um pouco mais deteriorado está encarecendo juros futuros no País, na contramão do trabalho feito pela autoridade monetária. Além disso, os salários estão estáveis em meses recentes”, pontua o economista.
Mikael pondera ainda que o momento está direcionado para uma normalização nos níveis de inadimplência, mas isso deve acontecer lentamente. “A inadimplência costuma subir de elevador, mas descer de escada, já que basta um compromisso em atraso para ter o nome negativado”.
O economista aponta ainda que a situação financeira se complicou muito nos últimos anos, fazendo com que os efeitos positivos da flexibilização da política monetária demorem um pouco para aparecer, mesmo considerando os programas de renegociação.
Em uma análise futura, o coordenador da Serasa Experian, Thiago Ramos, destaca que o cenário de endividamento é incerto. “A expectativa, a partir da queda em nível nacional, é de que o cenário continue melhorando, inclusive, a partir das iniciativas da empresa para a renegociação de dívidas, que seguem rodando o País com oportunidades que devem se consolidar antes do fim do ano”, conclui.
NOVEMBRO
Ainda de acordo com dados do relatório da Serasa Experian referente a novembro, apesar do aumento constatado, um componente do relatório apresenta recuo: as dívidas relacionadas ao varejo. A queda é de 0,33 ponto porcentual (p.p.) entre outubro e novembro, passando de 15,26% das pendências financeiras em Mato Grosso do Sul para 14,93%.
Liderando como maior responsável pelas negativações, com 31,90% dos débitos, o levantamento aponta o segmento de cartões e bancos, concentrando a maior porcentagem de dívidas. Já a representatividade da população adulta economicamente ativa e que se tornou inadimplente atingiu em novembro 49,49%.
Mikael explica que, apesar da queda da Selic, os juros de mercado ainda seguem em patamar muito alto.
“Quando a gente olha os juros do cartão de crédito, por exemplo, são juros altíssimos, e estamos falando de algo em torno de 15% ao mês e mais de 440% ao ano no rotativo. Então, isso é que tem levado essas pessoas a apontarem uma maior dificuldade para pagar suas dívidas”, justifica.
O montante total das dívidas em Mato Grosso do Sul é de R$ 5,799 bilhões, e o valor médio devido por inadimplente é de R$ 5,8 mil. As dívidas têm valor médio de R$ 1,48 mil, conforme indica o relatório de novembro da Serasa.
PESQUISA
Entre os brasileiros com dívidas, a maioria conhece e aprova o programa federal Desenrola Brasil, entretanto, 57% dos que estão inadimplentes não sabem responder se suas dívidas poderiam ser contempladas pelo programa de renegociação. A conclusão faz parte de pesquisa da MFM Tecnologia e do Instituto Locomotiva que traça o perfil da inadimplência brasileira.
“O programa tem uma alta aprovação, é bem-visto, mas não tem os seus detalhes, os detalhes de quem é elegível sendo entendidos de forma clara pela população”, diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, em entrevista ao Valor.
Para Meirelles, essa falta de conhecimento é natural, já que o programa teve uma série de etapas. Ele acredita, porém, que o Desenrola é “subaproveitado”, na medida em que não tem uma comunicação clara com o público que deve atingir.
Conforme a pesquisa, entre os brasileiros inadimplentes ouvidos, 76% conhecem o programa federal, mas apenas a minoria, cerca de 17%, tem alto conhecimento sobre o programa.
Via Agência Brasil